Os 4 Principais Tipos de Surdina para Trompete (Qual Usar e Quando)

Você chega ao ensaio da big band, animado, abre a partitura nova e, no meio de uma frase, encontra uma anotação do arranjador: “cup mute”. O coração gela por um segundo. Você olha para o trompetista veterano ao seu lado, que calmamente pega um objeto em formato de copo e o encaixa na campana. Nesse momento, você percebe que o trompete tem um idioma secreto que você ainda não fala.

Se você já passou por isso, respire fundo. Entender os diferentes tipos de surdina para trompete é um rito de passagem. Não é complexo, mas é crucial. Elas são como os pincéis de um pintor: cada uma cria uma cor, uma textura, uma emoção diferente. E saber qual “pincel” usar na hora certa é o que separa um músico amador de um músico de naipe preparado.

Pense neste guia como uma conversa com aquele músico veterano do seu lado. Vou te explicar, sem enrolação, quais são os 4 tipos de surdina para trompete que você absolutamente precisa conhecer, qual o som de cada uma na prática e, o mais importante, quando usar cada uma delas para o maestro sorrir em vez de franzir a testa. Vamos decifrar esse código.

“O Maestro Pediu uma ‘Cup’? Entendendo o Idioma das Surdinas”

Antes de entrarmos nos modelos, entenda a filosofia.

A primeira vez que a gente vê “mute” na partitura

A palavra “mute” (surdina) na partitura é uma instrução do arranjador para alterar fundamentalmente o timbre do seu instrumento. Ignorá-la é como ignorar as notas. O som que o compositor imaginou para aquele trecho depende do uso da surdina correta.

Por que existem tantos tipos de surdina para trompete?

Porque trompetistas, especialmente no jazz e em orquestras, são camaleões sonoros. As surdinas permitem que o mesmo instrumento soe metálico e agressivo em um momento, e suave e aveludado no outro. Cada um dos principais tipos de surdina para trompete foi criado para cumprir uma função musical específica. Conhecê-los é expandir radicalmente sua paleta de cores.

1. A Surdina Reta (Straight Mute): O “Padrão” do Naipe

Esta é a surdina mais comum, a “canivete suíço” do trompetista. Se você só puder ter uma, comece com esta.

  • O Som na Prática: Pense no som clássico das orquestras de Glenn Miller ou nos naipes de metais de trilhas sonoras de filmes antigos. O som da surdina reta é metálico, anasalado, com um “zumbido” característico (chamado de buzz). Ela não reduz muito o volume, mas comprime e foca o som, dando-lhe um timbre penetrante.
  • Materiais e Nuances: Elas vêm em diferentes materiais, e cada um tem sua cor. As de alumínio (as mais comuns) são brilhantes e com muito buzz. As de cobre têm um som um pouco mais escuro e quente. As de fibra (papelão) são as mais suaves e menos metálicas.
  • Quando Usar? É a surdina padrão para a música erudita do século XX. Em big bands, é usada para criar o som clássico de um naipe de metais tocando em uníssono. É indicada na partitura como “straight mute” ou simplesmente “con sord.”.
  • Dica do Veterano: A qualidade da cortiça é tudo. Uma boa surdina reta encaixa firmemente na campana e não chacoalha. As da marca Humes & Berg são um padrão da indústria há décadas e um investimento seguro.

2. A Surdina Copo (Cup Mute): O Som Aveludado e Misterioso

Esta é a surdina que o maestro pediu para você, “Daniel”. É uma das mais expressivas e essenciais para qualquer músico de jazz ou de estúdio.

  • O Som na Prática: Como o nome diz, ela tem um “copo” na ponta que abafa o som. O resultado é um timbre extremamente suave, abafado, escuro e com uma sensação de “distância”. É o som perfeito para criar uma textura de fundo, uma “cama” sonora para um cantor ou um solista.
  • Design e Ajuste: A maioria das surdinas “cup” de qualidade permite ajustar a distância do copo em relação à campana. Mais perto = mais abafado. Mais longe = um pouco mais de som direto. Essa ajustabilidade a torna muito versátil.
  • Quando Usar? Em baladas de jazz, introduções suaves, texturas de naipe em big bands e em qualquer momento que a música peça um som de trompete discreto, misterioso e aveludado. É indicada como “cup mute”.
  • Dica do Veterano: De todos os tipos de surdina para trompete, esta é a segunda que você deve comprar. Novamente, a Humes & Berg modelo “Stonelined” é o padrão ouro, usado em incontáveis gravações. Não tem erro. Para tocar com ela, você precisará de um ótimo controle do ar, então revise as técnicas do nosso guia de exercícios de respiração.

3. A Surdina Harmon (Wa-Wa Mute): O Som Icônico de Miles Davis

Esta é, talvez, a surdina com o som mais reconhecível e único de todas.

  • O Som na Prática: O som da Harmon é frágil, “sem corpo”, extremamente anasalado e focado, quase como um zumbido de inseto. É um som muito íntimo e vulnerável. Sua característica mais famosa é o efeito “wa-wa”, criado ao se cobrir e descobrir o buraco na ponta da surdina com a mão.
  • A Técnica da “Stem”: A Harmon tem um “cabinho” (a stem) que pode ser usado de três formas:
    1. Com a stem dentro: O som clássico de Miles Davis.
    2. Com a stem totalmente removida: Um som ainda mais aberto e com mais projeção.
    3. Com a stem usada pela metade (half-stem): Um som intermediário.
  • Quando Usar? É a marca registrada do cool jazz e das baladas de Miles Davis. Indispensável para quem quer solar nesse estilo. É indicada como “harmon mute” ou, às vezes, “wa-wa mute”.
  • Dica do Veterano: A Harmon afeta drasticamente a afinação do trompete, geralmente subindo o tom. Você precisará compensar, puxando um pouco a bomba de afinação principal. Pratique com o afinador até se acostumar. As da marca Jo-Ral Mutes são famosas pela excelente afinação.

4. A Surdina Desentupidor (Plunger Mute): A “Voz Humana”

Sim, é exatamente o que o nome diz. A surdina “plunger” original era, literalmente, a parte de borracha de um desentupidor de pia.

  • O Som na Prática: O plunger não tem um som fixo; ele é uma ferramenta de expressão. Ao mover o plunger para perto e para longe da campana, o trompetista pode criar efeitos que imitam a voz humana, como “fala”, “risada” e gritos. É o som característico das orquestras de Duke Ellington.
  • A Ferramenta: Você pode usar um desentupidor de pia novo (pelo amor de Deus, compre um novo!) ou modelos específicos para música, que são feitos de borracha ou metal.
  • Quando Usar? É essencial para o jazz tradicional, dixieland e para recriar o “jungle style” da orquestra de Duke Ellington. É indicada como “plunger mute”.
  • Dica do Veterano: A técnica está toda na sua mão esquerda. A chave é criar uma vedação quase completa com a campana e depois abri-la para modular o som. Ouça gravações de Bubber Miley ou Cootie Williams com Duke Ellington. Eles são os mestres.

Tabela Comparativa Rápida: Qual Surdina Para Qual Som?

Tipo de SurdinaTimbre PrincipalVolume RelativoEstilo Musical Principal
Straight MuteMetálico, anasalado, com buzzAltoErudito, Big Band Clássica
Cup MuteAbafado, escuro, aveludadoBaixoBaladas de Jazz, Texturas
Harmon MuteFrágil, sem corpo, “wa-wa”Médio-BaixoCool Jazz, Solos (Miles Davis)
Plunger MuteEfeitos vocais, “wah”, “fala”VariávelJazz Tradicional (Ellington), Blues

O Veredito do Veterano: Seu Kit de Sobrevivência Inicial

Ok, “Daniel”, você não precisa sair comprando todas de uma vez. A jornada para entender os diferentes tipos de surdina para trompete é gradual.

Se você só pode comprar duas, quais seriam?

Sem a menor dúvida: comece com uma Straight Mute de alumínio e uma Cup Mute de fibra. Com essas duas, você estará preparado para 90% do repertório de uma big band ou orquestra amadora. Elas são as bases.

A importância de ter um porta-surdinas para o palco

Quando a música exige trocas rápidas, você não pode deixar suas surdinas no chão. Invista em um porta-surdinas, um acessório simples que se prende à sua estante e mantém suas ferramentas prontas para a ação. Isso mostra profissionalismo e te salva de um desastre no meio do concerto. Saber como tocar em naipe também significa estar com o equipamento certo na hora certa.

Autor

  • André Fonseca

    Sobre André Fonseca

    Músico de banda há mais de duas décadas, André Fonseca entende a jornada do músico amador como poucos. A paixão pelo saxofone o levou a tocar em bandas marciais e filarmônicas, mas a vida o fez dar uma pausa de quase 10 anos.

    Ao voltar a tocar, sentiu na pele a dificuldade de conciliar a música com a família e o trabalho. Foi dessa experiência que nasceu o Melodia & Partituras, um espaço criado não por um professor acadêmico, mas por um "músico da trincheira". A missão de André é oferecer guias práticos, partituras e dicas que funcionam no mundo real, para quem tem tempo limitado mas uma paixão sem limites.

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